quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Discurso ECO

Este discurso do vídeo é um daqueles que não só nos fazem pensar: "por que agimos de forma tão autodestrutiva assim?". Por que esperamos vir apelos das crianças? Será que somos tão cegos que não conseguimos ver os efeitos de nossos próprios atos? Não éramos nós que devíamos de protegê-las? Então, por que fazemos tão pouco para mudar?

Severn Suzuk, canadense, na época com 12 anos, falou corajosamente durante a Eco 92, há 16 anos. Então eu pergunto: por que ele ainda é tão contemporâneo? E ainda mais emergencial?

A indignação que esta criança carregava consigo naquela época é a mesma que se perdura desde então, podendo-se perceber apenas sutis mudanças desde então. O que mais é preciso para que algo realmente mude? O que mais precisa ser dito? Ser feito?

Uma única coisa é certa: não podemos esquecer estas verdades!
Não podemos perder ainda mais nossos valores! Não podemos perder por completo o respeito pela vida, nem tomarmos o profundo gosto de destruir.

Confesso que certas coisas não entendo, e frequentemente dói meu coraçãozinho quando vejo alguém jogando lixo nas ruas, pelas janelas dos ônibus, dos carros. Indiferente do grau de instrução, classe social. Quando se deparam com situações cotidianas, simplesmente lhes são esquecidos os "discursos" que muitas vezes eles mesmos repetem, assim como as ovelhas da Revolução dos Bichos - George Orwel, como já citei outra vez, no post Pausa para política (out/2008). É como se separassem o "saber" da cultura rotineira. Como se a consciência fosse totalmente respaldada pela inércia das "costumeiras atitudes".

E acredito: tudo é cultura. A cultura do desperdício, como bem contada na História das coisas, que retratei no post Ciclo (set/08). A cultura da comodidade, de pensar em "jogar no chão para o catador de lixo pegar", esta que me consterna o fato de ninguém pensar: não seria mais fácil colocar nas lixeiras? Ou em lugares próprios para reciclagem? E se chover e aquela lata for parar no bueiro antes de o catador chegar, ou até mesmo se o catador não passar e ela ser mais uma das inúmeras causas de entupimentos e alagamentos em períodos de chuvas, gerando enxurradas. A cultura da ineficiência, onde existem situações como a falta de lixeiras, algo que parece bobo, mas que nos deparamos até nos ambientes sociais, que saímos para nos divertir, como eu mesmo me senti indignada quando fui ao um show do maravilhoso ambiente do Freegells em Belo Horizonte, lá é um ambiente amplo e muito bonito, amei o lugar, no entanto, simplesmente fui obrigada a colocar as latas e lixos gerados de papéis de bala num canto do chão, porque me recuso a jogar em qualquer lugar, por causa da ausência de lixeiras, que se concentravam em raríssimos lugares, e isso não é privilégio só desta casa, mas de várias que vamos nos deparando e calando. A cultura da conveniência, de pensar que "colocar para longe de nossos olhos o que nos incomoda", como se fosse a solução, e isso se faz presente no nosso dia-a-dia, quando jogamos um lixo no rio, ou no mar, ou quando nos cegamos ao pensar que não existe pessoas que vivem em subcondições, como bem contado no curta Ilha das Flores, que vivem nas marginais das cidades.

Existem tantas iniciativas à nossa disposição, como promovidas pelas prefeituras de coleta seletiva, recolhimento de entulhos e de lixo orgânico e até pela iniciativa privada de reciclar óleo. Porque então continuamos a agir do mesmo modo?

Que nos libertemos desta cegueira branca, tão citada por mim em vários posts, e em especial no post Ensaio sobre a cegueira (out/08) . A cegueira oriunda da vaidade, da ganância, do egoísmo. A cegueira que nos conforta, nos isola, nos engana. A doce cegueira que nos acomoda.

Que seja enraizado na nossa cultura do cotidiano as ações que moverão para uma sociedade mais consciente, justa e auto-sustentável!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Pausa para Política

Política é como qualquer outro segmento alimentado muito mais pela identidade das pessoas ali envolvidas, do que pela razão. Assim como futebol, religião, escola de samba ou boi .

Sinceramente não gosto quando as pessoas falam: "não falo sobre estes assuntos". Acho que é ser extremista demais. Mas é claro que há outro extremo, "os que falam disso". Como todo extremismo é "burro" por si só, todos os argumentos dos pós e contras se tornam inférteis.

Certas pessoas chegam à beira da loucura e cegueira com as suas paixões. Muitas outras são capazes de dedicar a maior parte do seu tempo ou promover uma guerra em prol do seu objeto de fixação. Brigam, matam, mentem, destroem, corrompem. Posso chegar a dizer que este sentimento é muito mais fiel que qualquer relacionamento entre um casal. A família e o amor chegam a ficar em segundo lugar, quando um desses sentimentos se torna exarcebado e são respaldados por uma "mania coletiva", onde o errado é a família por não entender. É incrível o poder de alienação e manipulação que o objeto da paixão é capaz de produzir no sujeito apaixonado.

Nesta campanha para prefeitura de Belo Horizonte fiquei espantada com as propagandas voluntariosas que ocorreram em prol dos candidatos. Sites, emails, vídeos. A minha caixa de email recebeu inúmeros destes.

O lado bom era ver todos se envolverem em algo que é realmente importante. Porque estávamos definindo os novos "gestores" de nossa cidade. Por outro lado vemos o quanto que as pessoas "se deixavam" cegar para embasar seus argumentos. Isso foi realmente triste. Pessoas estudadas, trabalhadores informados. Todos, numa mesma tentativa alucinante de "convencer o outro". Muitos nem sabiam o que diziam, apenas "repetiam" o que lhes fora "programado" para dizer.

Dizer que um dos nossos candidatos não sabia do mensalão, porque foi citado e que foi absolvido do caso, é a mesma coisa de dizer que o "dinheiro da cueca" não era do "pobre" homem pego no aeroporto, ou que as altas cifras desviadas dos cofres públicos para uma conta de um famoso político foram parar lá sem ele querer, assim como o nosso presidente não sabia dessas falcatruas debaixo do seu nariz ou que tantos outros nomes absolvidos nestes escândalos e que são publicamente salafrários, lobistas, golpistas e que terminam na "dança da pizza", são todos uns "santos".

Ou assim como nosso outro candidato, que pensava que seguir a velha cartilha dos antigos e corruptos políticos, alguns até da sua própria família, e que é ainda tão usada até hoje por tantos, capaz de reeleger muitos políticos da "velha guarda". Cartilhas que ensinam como vender a alma e comprar os votos. Este era um candidato que tentou passar uma imagem teatral pitoresca do "povo", mas que se descontrolava perante assuntos sérios, numa extrapolação mesclada com inexperiência e imaturidade, excedidos com "chutes na bunda".

O fato é que ambos os políticos não são santos. Por mais que "todos" os simpatizantes dos candidatos dissessem isso. Além de uma desenfreada disputa de "ataques" diretos, ou deveria me corrigir para indiretos? Por que o candidato não poderia ser tão direto assim, era até muito "polite" quando o assunto era falar do adversário. No entanto, incubem os "peões" para fazer o serviço sujo. E quantos os fizeram! Foram para a guerra! Concordo que alguns não agiram como meros peões, porque não tinham boas intenções, mas principalmente, porque sabiam o que estavam fazendo, usando os artifícios e conhecimentos que tinham para "fazer propriamente política", manifestando o que pensava. Outros, contudo, eram os verdadeiros peões, seu "fazer política" era apenas repetir o discurso dos porcos como fazia as ovelhas da Revolução dos Bichos - George Orwel.

Então, se todos são humanos e sujeitos a erros, o que pretendo então dizer aqui? Que política é muito mais que uma "paixão" de time. Acreditar que o seu time é o melhor, mesmo estando em últmo lugar na classificação não muda nada. Mas permitir-se auto-enganar, alienar-se, manipular-se, apenas para fazer parte de uma paixão, principalmente, quando esta define o destino de uma sociedade? Na política não há espaço para ilusões e nem para ludibriar. Há espaço apenas para se fazer política. E política só existe uma: a política séria. Indiferente de quem você vote, ou acredite, não se permita colocar uma viseira, ou pior ainda, uma venda. Os políticos só estão ali, e só fazem as safadezas e desrespeitos com a nossa população porque nós fazemos política assim. Somos nós que os colocamos lá, e consequentemente
, é a forma com a qual lidamos com a política, que ela nos representa lá.

Talvez tenha sido um pouco exagerado ou até mesmo alienado demais. Mas o fato do resultado da eleição ter descartado o "bonito, jovem, teatral" candidato, só mostra que esta fórmula já está gasta. A revolta dos inúmeros eleitores é que não caímos mais nesta fórmula, não somos bobos. Não que o outro candidato fosse perfeito, pelo contrário, há muita história mal contada ali. Contudo, mostra que não queremos apenas "perfeitos e moldados" candidatos, queremos , sobretudo: profissionais de gestão competentes e eficientes, além da ética sincera de respeito com o eleitorado.

Política está em tudo na nossa vida, não há como fugir dela. Na sua vida em comunidade, no seu condomínio, no seu trabalho, na sua escola, na sua casa.
Política não é "chatice", é seriedade, é maturidade em entender as necessidades de convivência de um grupo, respeitando as liberdades do indivíduo, e trazer ações mais harmônicas, fraternas e iguais para todos deste grupo. Política não é só para os líderes políticos, é para cada um, a todo instante, em nossas realidades. Então, que o façamos de forma consciente e inteligente. Que comecemos por nós, para mudarmos à nossa volta!

Rumo a uma sociedade mais digna, mais ética!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Momento cultural: bandas regionais!

Venho aqui fazer minhas humildes sugestões musicais.

Não estou falando das bandas que todo mundo conhece, nacionais e internacionais, e que são muito boas. Estou falando das muitas bandas boas que temos na nossa região mesmo e não conhecemos.
E olha que alguns até já possuem seu espaço regional, como o Tambor Mineiro e Maurício Tizumba, Rosa dos Ventos e Titane, Érika Machado, Marina Machado, Amaranto, Orquestra Mineira do Rock (Cartoon, Cálix e Somba), Thespian, entre outros. Entretanto, para alguns, nunca ouviram falar, para outros, já é quintal de casa, de tanto que os acompanha. Eu sei que a mim, estes músicos, de composições próprias, fazem meu corpo arrepiar e meu coraçãozinho acelerar.

Só que em alguns momentos nos deparamos com alguns sons que nos atraem. Às vezes os conhecemos em lugares inusitados e de forma despropositada, e quando percebemos, estamos completamente envolvidos. Então concluímos que é um desperdício estarem só ali.

E é justamente por isso, que estou tendo a doce pretensão de estender um pouco mais este espaço, e manifestar minha admiração a estas bandas que também nos surpreendem com suas poesias, com seus arranjos e seus vocais, só que ainda não tiveram seu devido reconhecimento. Então, eis minhas novas inspirações, com as quais estou me deleitando: Alarido, Porta Pantográfica e Winner.

Que a arte seja reescrita, remontada, cantada, recitada e reinventada a todo instante. Uma ode à cultura!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Gatinhos


Engraçado como ter alguém para cuidar é tãoooo bom! Ainda mais quando ele tem pelinhos e se mexe... aiai doce infância... Quando tínhamos aquele bichinho de pelúcia e para nós o seu único defeito era que não se mexia. Contudo, este se mexe! Ah, como se mexe! Mexe tanto que faz até arte! Tira do sério às vezes. Mas faz rir também, aiai, como são cheios de graça estes bichanos, como já cantava a banda Skank. E o mais interessante quando nos permitimos cuidar por uma simples necessidade do acaso. E de repente nos vemos envolvidos de amor. Então, quando menos esperamos, lá estão eles, confiando na nossa proteção, sendo companheiros, pedindo carinho, dando carinho. Uma recíproca que acontece de forma tão natural, que logo nos vemos ali, conectados, como uma família.

Sempre gostei de cachorros, eles são companheiros e fiéis. São de uma entrega e uma dedicação única. Não tem como não amá-los. Já os gatos, é preciso conhecê-los para amá-los. Os gatos são mais independentes, fazem o que querem e quando querem. Mas aprendem os limites também, além de serem muito espertos.
Pode até parecer que são "folgados", mas na verdade, é apenas como pedem atenção, sua forma de se mostrar ali, presente, amigo, companheiro. E o mais interessante, é como nos surpreendem com a sua peculiar forma de amar.

Existem inúmeros vídeos sobre os gatos, assim como de cachorros, e os inúmeros animais de estimação. Fazem até artigos, como o interessante Barato do Gato - de Aline Angeli, da Revista Vida Simples. Além das inúmeras descobertas de que um animal de estimação auxilia e muito na qualidade de vida e no tratamento de doenças como neste blog. Os mais apaixonados chegam a
dizer que os seres humanos se dividem em personalidades: canina e felina.

Uma simples homenagem a este universo tão cativante.


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Notas de agradecimento: Obrigada Baldico pelo vídeo postado! Obrigada Glayson e Serenity pela indicação dos meus gatinhos: Netuno e Simba! E parabéns Serenity pelo lindo trabalho que você e seus companheiros da causa se dedicam em favor dos animais indefesos! Obrigada Harley, por ter me apresentado o mundo felino, por me ensinar a compreendê-los..... Aiai.... E saber que tudo começou com nossa saudosa Crô.
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Te Ver
Skank Composição: Samuel Rosa / Lelo Zanetti / Chico Amaral

Te ver e não te querer

É improvável, é impossível

Te ter e ter que esquecer
É insuportável
É dor incrível...(2x)
É como mergulhar no rio
E não se molhar
É como não morrer de frio
No gelo polar
É ter o estômago vazio Não almoçar
É ver o céu se abrir no estio
E não se animar...
Te ver e não te querer
É improvável, é impossível
Te ter e ter que esquecer É insuportável É dor incrível...
É como esperar o prato
E não salivar
Sentir apertar o sapato
E não descalçar
É ver alguém feliz de fato Sem alguém prá amar
É como procurar no mato Estrela do mar...
Te ver e não te querer
É improvável, é impossível
Te ter e ter que esquecer
É insuportável É dor incrível...
É como não sentir calor Em Cuiabá Ou como no Arpoador
Não ver o mar É como não morrer de raiva Com a política
Ignorar que a tarde Vai vadiar e mítica
É como ver televisão E não dormir
Ver um bichano pelo chão E não sorrir
E como não provar o nectar
De um lindo, de um lindo amor
Depois que o coração detecta A mais fina flor...
Te ver e não te querer

É improvável, é impossível
Te ter e ter que esquecer
É insuportável É dor incrível...(2x)

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quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Ensaio sobre a cegueira

O livro Ensaio sobre a Cegueira do premiado autor português José Saramago é um destes livros que é imprescindível na cabeceira de nossas camas, de forma a não nos esquecer de sempre nos libertarmos da cegueira branca que inunda nossos olhos, nossa alma diariamente. Estamos sempre presos à nossa vida, e a todo instante vamos cegando e nos acomodando ao que nos interessa ver e viver.


Então, de repente você e toda uma cidade se encontram limitado a uma cegueira real, aonde retomam ao estado mais primitivo, de dependência, readaptação e sobrevivência.


Foram neste contexto que o cineasta Fernando Meirelles levou para o cinema as dimensões e profundezas tratadas pelo livro. Foi interessante conhecer o blog Blindess que o Meirelles foi descrevendo durante todo o processo de produção e criação do filme. As dificuldades, os medos, as tensões e os momentos de profunda beleza que foram vividas nos sets. Eu tive o prazer de acompanhar e ver quão humano é fazer um filme. Não são pessoas "divinas", perfeitas, são pessoas reais, que se tornam especiais por simplesmente se encontrarem empenhadas em um propósito. E foi neste ambiente tão humano e intimista que o Meirelles trouxe aos expectadores em seu blog a proximidade e a realidade cinematográfica. Foi uma experiência interessante, porque à medida que via o filme, eu me lembrava dos comentários do blog, além das partes do livro, me trazendo a cada momento para mais para perto de tudo mostrado ali.


Havia muita expectativa sobre o filme, ainda mais com a aprovação do mestre Saramago, cujo vídeo mostra sua emoção após vê-lo. E foi assim, diante de tanta pressão e ansiedade dos expectadores que ele chegou às telas, e como no livro, ele não te convida para uma sessão relax, destas que quando saímos do cinema nem nos lembramos o nome do filme. Não, ele vai muito além. Contudo ele não é chato por isso, e sim envolvente e instigante. Impossível não pensar nele depois. Não é fácil ver jogado nas nossas caras nossas limitações, nosso lado primitivo, subumano. É possível sentir o ar fétido que inundava as camaratas pelas flatulências matutinas.

Além disso, retrata o que o ser humano sabe alimentar melhor: a vaidade. A vaidade de ser, ter e poder. Todos ali, numa mesma condição, e de repente, alguém quer ser "especial", "diferente", e impõe comando. Os que até então estavam tentando se adaptar ao convívio em comunidade, agora se via condenados e subordinados a alguém tão cego quanto eles, mas que havia um diferencial: uma arma. Mesmo sabendo que a arma um dia acabaria as balas, ainda assim, quem se atreveria? Por conseguinte, tudo que lhes eram preciosos lhes foram tomados a troca de comida: as jóias, os dinheiros, as mulheres.

Nada foi poupado. Tudo mostrado ali, numa tênue cena desfocada pela luz branca. Algo irreal para o mundo em que vivemos? Não. A todo tempo uns usurpam os outros. Tiram-lhe não só os bens, mas a dignidade. E o que fazemos? Refugiamo-nos acomodados em nossa cegueira.


É claro que toda opressão e forma de controle cai por terra um dia, como comentei neste blog no post Liberdade - Direito de escolha. E não poderia deixar de ser também com a cegueira branca. Um dia nos cansamos de nos sucumbirmos, tomamos coragem, e nos libertamos. Que venha a verdadeira luz aos nossos olhos, às nossas vidas. Não a luz branca que cega, mas a luz que elucida. E falando em elucidar, abrindo uma ressalva, recomendo: Ensaio sobre a Lucidez, também de Saramago. Só que neste caso, o pano de fundo é a lucidez através dos votos em brancos que esta mesma cidade do Ensaio sobre a Cegueira faz em uma eleição, fazendo até algumas menções e correlações entre eles. Não tem a mesma química envolvente do primeiro, mas vale a pena.

Voltando ao filme, interessante os momentos em que estes efeitos da luz branca eram usados. Em todos os momentos que ali eram mostrados nosso eu mais limitado, nossos medos, incertezas, inseguranças, nossas cegueiras diárias, ali vinha à tela branca.

Também a Julianne Moore correspondeu muito bem ao papel da mulher do médico e todos os seus tormentos em ter que sozinha lidar com toda aquela situação. Lembro que em alguns momentos do livro a mulher do médico dizia que preferia estar cega também e não ver tamanhas barbáries e as condições subumanas em que todos se encontravam. E uma cena que não foi retratada no filme, mas que foi uma das que mais a angustiaram no livro foi quando ela voltou ao supermercado - o mesmo retratado no filme - para buscar comida e sentiu um cheiro horrível. Foi quando viu que naquele depósito escuro havia pessoas mortas, que ao tentarem descer as escadas à procura de comida, por estarem cegas, caíram e morreram. Logo depois, ela em total desamparo, é consolada por um cachorro de rua, que lambe docilmente suas lágrimas. Esta cena tão doce é claro que não poderia ser esquecida por Meirelles que a dirigiu com tamanha leveza.

Alguns podem perguntar: Por que os personagens não tinham nomes? Quais eram os personagens principais? Por que aconteceu a cegueira? Por que veio a lucidez?


As respostas são bem simples: não há razão. Os personagens representam cada um de nós, não é alguém do outro lado da história, somos nós mesmos nas nossas histórias diárias, sem personagens principais.O porquê te todos ficarem cegos ou elucidarem não faz parte de uma lógica racional, a idéia vai muito além, transcende qualquer objetividade, e então, abre-se o espaço para o subjetivo, permitindo que assim, se perceba que estas perguntas não têm necessidade de serem feitas.


Fazendo uma rápida comparação, mas a Cegueira Branca em que muitas vezes nos encontramos se deve ao fato de nos acomodarmos ao "nosso" mundo, e esquecermos que há muito mais para se fazer e viver, assim como diz a música Ouro de Tolo de Raul Seixas. E é justamente por nos permitirmos viver desta forma que o mundo está da forma que está: um caos. Uma necessidade imediatista da sociedade que não mede conseqüências, aonde a vida de uma mãe tem menos valor para uma filha que uma ida ao show de uma banda, como na reportagem que me choquei há alguns meses atrás, ou a vida de uma criança subjugada à escravidão, ou à prostituição, como retratada de forma excepcional no audacioso filme nacional Anjos do Sol. E muitas vezes a caridade e a fraternidade que se propõe são tão estéreis, que se preocupa muito mais com o espetáculo, como recitado no texto Fraternidade (ou um novo ensaio sobre a cegueira).


Temos urgência para voltar a enxergar! Temos urgência de mudança!


Que venha a lucidez!


terça-feira, 7 de outubro de 2008

O Paradoxo do Hoje e o Cheiro do Ralo

Recebi este interessante texto de minha vizinha Cristina e gostaria de compartilhá-lo.

Escrito de forma muito direto e profundo. Escancara nossa sociedade atual. Derrama a vida, e todas as suas relações e valores que estão sendo cultivados.

Lembro-me um pouco do filme O Cheiro do Ralo, com Selton Melo. Confesso que não gostei muito deste filme, por outras razões que não falarei agora. No entanto, a idéia dele é muito sagaz e foi conduzida de forma tão peculiar, tão quanto a personalidade tosca do personagem Lourenço, uma representação perfeita do "nós atual" que usava de suas condições favoráveis sobre as necessidades das pessoas para comprá-las, humilhá-las, usurpá-las. O desejo acima do humano. O imediatismo, o supérfulo, o fugaz. É um filme tão fétido, quanto a sociedade que estamos vivendo hoje, cuja ode ao poder e a vaidade se tornam fetiches, e extrapolam qualquer possibilidade de existir o verdadeiro sentido da palavra "humanidade".

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Ditadura da Beleza


Até quando vamos nos calar? Até quando vamos nos subjugar às imposições que a sociedade nos impõe? Por que preciso me submeter a tamanhas loucuras para me fazer ser aceita a um grupo?

Até quando a ganância e a vaidade vão reinar em nossas famílias, em nossas vidas? Até quando permitiremos vender nossos filhos? Até quando os veremos se submeterem a situações subumanas para trabalharem e aceitaremos?

Toda esta loucura é por dinheiro?

Toda esta loucura é para se sentir aceito?

Vale a pena? Quando alcançar o ideal estético, não se terá mais vida para viver. Vale a pena?

O problema também é que nunca se chega ao ideal. E continuamos nos definhando, nos definhando.... Então se percebe, tarde demais, o mais frustrante: não existe o ideal.

Triste ver quando uma adolescente escreve que não tem medo da morte, se este for o preço a se pagar por sua obstinada e obsessiva decisão. Triste saber que a família, muitas vezes, é passiva até chegar ao último sopro de vitalidade de seus filhos. Triste perceber que todos estão tão cegos e alienados que qualquer ordem ditada pela sociedade é rapidamente acatada por todos.

Triste saber o quão pouco vale a vida...

Doce alienação.... Doce cegueira branca, que nos consomem até o findar da vida....

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Juno e Mallu Magalhães


Juno é destes raros filmes simplesmente encantadores! Conduzido com uma leveza despretensiosa. Cenário e figurino retrô para alguns, mas tão intimista que poderia ser nossa casa, nossa família ali com nossos corriqueiros problemas e dilemas. Não há história de herói, de mocinha ou de bandido, há história de pessoas. Personagens tão comuns, representados de forma tão humana, sem maiores intenções, que permite uma real conectividade e identificação com quem lhe assiste. E é justamente por ser assim, que o torna tão especial.


E é incrível como certas coisas que aparentemente não tem a menor razão de terem alguma ligação se conectam de forma tão surpreendente.

Assim eu sinto com o filme Juno e as músicas de Mallu Magalhães. Uma sintonia peculiar que remete um saudosismo de “não sei o quê”, mas um saudosismo que inebria a alma e a enche de tamanho calor e amor. Ao pensar em Juno e em Mallu eu penso em meias todas listradas e coloridas, em paredes com pinturas alegres, em casa na árvore, em bonequinhos de papel, em almofadas de crochês, em saias de xadrez... Tudo como um filme antigo, com uma película com interferências, com cenas em preto e branco, ou com um colorido “desbotado” pelo tempo.


Engraçado a vida e suas conexões sem pretensões.


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Só uma nota: acabei de ver o emocionante momento em que a Mallu Magalhães se derrama ao cantar com um músico que tanto admiro também: Marcelo Camelo. Recomendadíssimo! Um encontro simplesmente belo, simplesmente único!Vejam.