segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Ética Digital


Confesso que realmente fico dúvida se algumas atitudes que ainda vejo frequentemente são “desvios de condutas” ou “gafes inocentes” de quem está entrando agora para a era digital.


No entanto, sempre que posso dou meus “toques”, o que acho de imensa valia, porque dessa forma não me acomodo no “falar mal e fazer piadinhas pelas costas” e de certo modo levo as pessoas a refletirem e talvez até mesmo levá-las a pensarem antes de agirem novamente assim.


Pode parecer que não, mas funciona às vezes. Lembro-me de certa vez que aconselhei um amigo de minha irmã, que vivia me repassando os infindáveis e-mails que ele recebia. Indiferente do conteúdo e ainda, mantendo todo histórico de quem recebeu-enviou. Em um dia em que recebi um e-mail com fotos pornográficas bem esculachadas eu fiquei profundamente constrangida. Não que eu não goste, ou não receba conteúdos pornográficos. Mas para cada conteúdo, há subdivisões de área-gosto-perfil, e o que ele havia me mandando era realmente muito chulo para mim. Para enviar um e-mail você tem que saber qual é o perfil da pessoa que está recebendo. É a mesma coisa você mandar uma matéria de uma churrascaria para um vegetariano, ou de uma piadinha sarcástica sobre os judeus ou portugueses para um judeu ou português. Então, ao ver que ele havia também mandado para uma lista extensa, e havia dito no contexto que não conseguira ver o conteúdo, mas estava repassando assim mesmo, tomei a iniciativa de lhe responder. Quando falei minhas sugestões, ele me agradeceu muitíssimo porque algumas pessoas já estavam se sentindo desconfortáveis com ele, só que não tiveram coragem de falar o porquê.


E isso também aconteceu comigo. Logo quando me inseri ao universo digital, e encaminhei meu currículo para muitas empresas ao mesmo tempo, cometi a ingenuidade de não colocar em cópia oculta (cco). Então, um dos RH que havia mandando me respondeu gentilmente me explicando que o melhor seria encaminhá-los com cco.


Há também e-mails taxados como spam. Mas o que é spam? São textos que se propagam pelas vias on-lines e continuam a se propagar, se propagar. E estas vias não são se limitam só aos e-mails, hoje podemos vê-las presentes até nas páginas de recado do orkut. Alguns podem ter veracidade, e se propagam porque são bons ou importantes mesmo, outros, no caso, normalmente, a maioria, pelo simples vício de repassar. Quantas vezes já ouvi o Arnaldo Jabour falar na CBN que certo texto divulgado na internet não era dele. Ou aqueles apelativos e-mails que fala que não temos coragem de divulgar algo realmente importante, nos desafiando, principalmente os de teor religioso. Também há aqueles que nos acontecerá uma praga ou perderemos dinheiro ou até mesmo o amor se não o repassá-lo, como as inúmeras correntes. Tem aqueles apelos de pessoas desaparecidas, de doentes que ganharão dinheiro a cada e-mail repassado, há também os que pedem para acessar um site para que ele continue a receber ajuda financeira e os que ganharam brindes, como celular, caso repassem para o maior número de pessoas. Há até aqueles e-mails que surgem como uma brincadeira, como colocar nome e completar a lista ou responder algum questionário ou fazer algum teste, remetendo quando fazíamos passatempos assim nas décadas anteriores em forma de cadernos, papéis, brincadeiras de rua, e que hoje são feitas de forma on-line e atingindo um número bem maior de participantes, mas não que isso traga mais proximidade de quem o integra.


Uma coisa que me incomoda por demasiado, é quem nem sequer disfarça quando você está digitando alguma senha. Ora, se é senha, é porque é privado, se quisesse que fosse público, não precisaria ser senha. Nem a senha da minha mãe, quando ela vai ao banco, eu tenho coragem de olhar. Quiçá tentar gravar uma senha de outra pessoa na minha cabeça. Simplesmente não consigo. Faz parte da minha índole. Automaticamente meu cérebro se abstrai desta intenção (ou seria má-intenção?), e nem que eu quisesse, eu não consigo. Faço questão de me afastar ou virar. Contudo, há pessoas que fazem justamente o contrário. Mas infelizmente ainda não consegui falar com grande parte destas o meu profundo incômodo quanto a isso. Apenas uma observação necessária, não que tenha haver com o assunto, apenas para ser coerente comigo mesma. Todas as vezes que eu tive acesso a outras senhas que não fossem as minhas, ou porque foram me dadas ou quando cometi o ato extremo de mudar uma senha para ter um acesso que me levaria a uma verdade que me estava sendo negada, e que eu tinha o direito de sabê-la. Então podem me perguntar se me orgulho? Não. Mas sei que foi necessário, uma vez que já havia tentado todas as outras vias corretas para obtê-la e não poderia mais viver na mentira em que me colocaram, sem direito de escolha.


Há algo também de profundo desagrado. Quando alguém chega perto de você, e lê de forma nada discreta o que você está lendo ou com quem você está teclando e sobre o quê falam. Confesso que em alguns momentos também me rendia a esta tentação, só que ocorria de forma meio inocente mesmo. Ou num momento em que esperava sair à impressão de algum documento, e isso é algo que demora muito aonde trabalho, e então me dispersava nos olhares dos computadores à minha volta, e inevitavelmente eu sabia os sites que eles estavam acessando ou se estavam jogando algo.


Não tenho pretensão de saber ou ter a verdade sobre este assunto, apenas acho importante compartilhar um pouco do que penso para um melhor comportamento nesta era tecnológica que vivemos. Existem com certeza pessoas mais especializadas no assunto, como pode ser visto nesta comunidade ou neste blog.


Então, vamos às minhas humildes dicas de ética digital:

1- Histórico: quando encaminhar algum e-mail, apague antes o histórico de envios-recebimentos anteriores. Observação: fica no corpo do e-mail.

2- Conteúdo: Verifique o conteúdo do e-mail antes de reenviá-lo e selecione as pessoas que se adequarão ao perfil do contexto, para que não ocorram constrangimentos para quem receber. Para facilitar, você pode criar grupos de contatos.

3- Cópia oculta: Sempre que encaminhar um e-mail para mais de um grupo de contatos, coloquem com cópia oculta (cco) os remetentes. Quando os contatos são amigos em comum, e a idéia do e-mail é justamente compartilhar um assunto e abrir espaço para discussão na turma então o cc (com cópia) é cabível, senão, use o cco.

4- Privacidade: Evitar sempre que possível, olhar o que as pessoas estão fazendo em seus micros. Principalmente quando se começa a ler os conteúdos das conversas, dos e-mails ou dos documentos em aberto.

5- Senhas: Neste tópico não usarei o termo evitar, serei mais direta. NUNCA olhar a senha que a pessoa está digitando. Pode-se virar o rosto, se afastar ou fazer outra coisa enquanto alguém estiver digitando a senha. E isso serve não só pro computador, mas pra tudo. Você pode até pensar que a pessoa que está digitando a senha é boba e não está vendo a sua indiscrição, mas ela está e isso faz apenas que ela tenha menos confiança em você. É uma demonstração de índole.

6- SPAM: Muitas vezes, cria-se o mau hábito de simplesmente repassar o que recebemos, sem ao menos investigar ou questionar a veracidade daquelas informações. Portanto, busque sempre que possível saber a origem das informações daquele e-mail e se realmente é necessário repassá-lo para todos da sua lista ou para algum grupo específico.


Espero que este meu deleite sirva de alerta para os espertinhos de plantão, para reverem seus conceitos de ética e idoneidade, e principalmente, para os que ainda estão sendo inseridos neste mundão on-line aonde muita informação nos é dada e precisamos saber garimpar o que de melhor nos é oferecido, para absorvê-lo, e quem sabe, compartilhá-lo com quem achamos realmente importante.


A ética digital é apenas um dos inúmeros ramos de nossa vida que temos que nos atentar. Este vídeo da Ana Paula Padrão é bem interessante, porque ela diz que está chocada da forma como a sociedade atual está perdendo os valores, aceitando tudo o que lhe é dado como normal, se submetendo a um senso comum distorcido, e enfatiza a importância de sempre se questionar quando se depara com qualquer situação na vida: se isso é ético ou não, e se permitir indignar sempre, e sobretudo, conservar dentro de si os valores da ética, porque este é único em qualquer cultura, lugar que formos viver.


Então que comecemos com passos simples no nosso dia-a-dia, de forma coerente e respeitando à vida, ao indivíduo e ao convívio coletivo, conscientes que nossos pequenos atos diários refletem no mundo à nossa volta e por isso, que sejamos capazes de fazer dele um lugar melhor para se viver.

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