sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Operação Valquíria

Delegamos responsabilidades demais a Deus?

Para começar este texto, venho dizer que ele não tem pretensão alguma de blasfemar contra qualquer crença ou religião, principalmente a Deus, a quem professo minha fé.

O fato é que percebo que em alguns momentos simplesmente delegamos responsabilidades a Deus. Ora, a todo tempo vemos quantas coisas tristes acontecem! Sendo Deus amor, porque tanta dor? Aí alguém diria: o livre arbítrio. Sim, claro, a responsabilidade humana! Só que sempre depois de um momento de dor ou de indignação sempre vem aquela velha frase: foi a vontade de Deus! Será que é mesmo?

Vamos entender meu raciocínio, e para isso vou citar o excelente
filme Operação Valquíria, de onde veio a inspiração deste meu pôst. Se os homens estavam fazendo a guerra, segunda guerra, para sermos mais exatos, e era o Hitler o demônio da vez, precisávamos de pessoas que fossem o instrumento de Deus para terminar aquela guerra, correto? Errado. Pelo menos, o que parece.

Havia pelo menos cinco anos que judeus eram exterminados em campos de concentração, que famílias alemãs viviam na miséria da guerra sob o domínio do Partido, só ler o
livro a Menina que roubava livro, de Markus Zusak para conhecer um pouco desta realidade, e que milhares de pessoas morriam por todo o mundo. Só que a guerra tinha um fim, pelo menos, era a grande desculpa da vez: a luta contra o nazismo, contra a expansão do Terceiro Reich.

Hitler era o controle do Partido, o ícone, sem ele tudo se tornava enfraquecido. Bastava sua voz para impor respeito, temor, medo a toda uma nação. Então, quem conseguisse chegar a ele, poria fim às atrocidades da
2º guerra mundial. Se fossem os próprios alemães, o respeito à nação Alemã seria restabelecido, teriam o retorno aos valores massacrados pelos pensamentos alienantes da “raça pura”, sem precisarem carregar as sombras deixadas pelo Terceiro Reich.

Poderia ser lírico se pensássemos que atendendo aos pedidos de tantos que deveriam de ter suplicado naquele momento por pessoas corajosas, por heróis, para salvá-los daquele inferno, vieram pessoas de dentro do governo que se opuseram à conduta nazista e se propuseram a arriscar suas vidas em nome de um país que eles acreditavam. Seria ainda mais lírico e heróico se eles tivessem conseguido. Ao contrário, as condenações à morte por traição ao Führer fora o fim destes que seriam os libertadores de todos.

Ora, por que eles não conseguiram? Por que falhou a
Operação Valquíria? Por que alguém afastou aquela bomba de Hitler? Eles estavam lá, tão perto, por que a sorte lhes faltou? Por que se precisou de mais um ano de massacre mundial, para que a guerra se findasse com a tomada dos Aliados e o suicídio do Führer? Por que precisou de mais um ano de crianças e mulheres judias serem incineradas? Por que precisou de mais um ano de fome, miséria e perdas nas famílias atingidas pela guerra? Por que precisou das bombas de Hiroshina e Nagasaki? Seria por que Deus quis? Não, não posso acreditar nisso. Creio que Ele chorou profundamente com tantas dores e lares dilacerados. Não há justificativa pra tanta dor.

Então tentaríamos buscar respostas, porque como humanos que somos, tentamos justificar tudo: era importante o alarde do poder de destruição que as bombas atômicas têm. Será mesmo? Isso não fez com que na guerra fria houvesse uma corrida de armamento nuclear mundial, anos depois. Isso não impede que hoje, às escondidas, os países busquem esta grande arma para obterem respeito e temor. O que houve e o que há hoje é a diplomacia da conveniência política de como administrar este grande perigo mundial.

O fato é que acredito cada vez menos que tantas atrocidades assim estavam de alguma forma nos Planos Divinos. Não precisamos ir tão longe. Dores que dilaceram os nossos corações diariamente: perdas, violência, traições, desrespeitos, usurpadores, falta de idoneidade, impunidade, injustiças, egoísmos, entre tantos outros atos humanos que acabam de certa forma atingindo pessoas do bem. E quem são os causadores, em geral, consegue dormir tranquilamente, viver suas vidas de sucesso, enquanto os atingidos carregam suas marcas por toda vida, e tenta diariamente sobreviver a elas.

Sabe de uma coisa? Cansei deste nosso discurso de darmos responsabilidades que não são a Deus. A gente sempre tenta entender. O fato é que não tem o que entender. Somos muito mais responsáveis por nossas vidas e pelas vidas dos outros que nos cercam, e que de alguma forma ou de outra interferimos, seja de uma maneira boa ou má, do que a Força Divina, quem insistimos denominar.

Não podemos transferir responsabilidades. Não há justificativas Divinas. O que há são atos humanos. Apenas humanos. Alguns, buscando na sua humanidade trazer a eles um pouco de divindade, outros, rendendo-os aos seus próprios egoístas desejos. Não há certo ou errado nas escolhas. Cada qual escolhe viver como se sente bem e em paz consigo mesmo. Contudo, quando as escolhas interferem na vida de outrem, cabe-se a responsabilidade do outro também. Não vivemos numa redoma. Nossos atos desencadeiam marcas. Basta apenas a nós escolhermos que sejam marcas boas ou não em outrem.

Como é difícil e cruel isso, num é? É como seu os nossos sonhos mais pueris se quebrassem. Saber que somente nós estamos a conduzir nossos atos e percebermos que nossas quedas não têm um porquê específico dói muito. Admitirmos nossas perdas, nossas marcas, nossa solidão como apenas consequência de nossa humanidade nos assusta.

É claro que mentiria se não dissesse que não sinto a Mão Divina em mim. Seria ingrata com meus Anjinhos da Guarda que por tantas vezes me conduziram quando nem eu mesmo conseguia fazê-lo. Sentindo sempre a bondade de Deus, Seu amor, Sua providência, Sua proteção neste meu caminhar. Euzinha, tão pequena, ínfima nesta imensidão dos universos, e ainda poder sentir tamanha doçura e cuidado! Ai... Ai, como é lindo! Só que seria injusto transferir minhas marcas, por causa de um porquê Divino. Seria injusto condená-Lo por não evitar minhas marcar, ou pelo menos, por não evitar que doam tanto.

Estão livres agora todas as Divindades a quem acorrentamos com nossas responsabilidades! Cada qual mantém sua Fé, seu Amor e seu Temor à sua respectiva crença. Mas Elas se encontrarão livres de nossas correntes! Anistia a Deus!

Um comentário:

Anônimo disse...

INTERESSANTE!
NÃO SEI COMO SEU BLOG SURGIU NA TELA DO MEU COMPUTADOR!
LI COM CARINHO O QUE ESCREVEU SOBRE DELEGARMOS TUDO NAS COSTAS DE UM DEUS "ANTROPOMÓRFICO" CRIADO POR NÓS PARA O NOSSO DESCULPISMO DE SEMPRE.

EM RELAÇÃO A TUDO QUE ESCREVEU SOBRE OS ATOS HUMANOS, TENHO UMA VISÃO REENCARNACIONISTA QUE ME INDICA A RAZÃO DE TODAS AS COISAS, COMO UM APRENDIZADO PLANETÁRIO CONJUNTO PARA APRENDERMOS DE UMA VEZ POR TODAS A PRATICAR O AMOR, A FRATERNIDADE E O RESPEITO UNS PELOS OUTROS QUE OS GRANDES MESTRES JÁ NOS DEIXARAM HÁ MUITO TEMPO.