segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Violência! Silêncio! Paz!

Aconteceu algo realmente apavorante ontem à noite.

Estava eu, desligando meu computador e preparando minhas coisas para dormir quando começo a ouvir uns gritos de uma jovem, seguidos de uma pancadaria. Era 1hora da manhã.

Se não bastasse, ao olhar pela janela, vejo numa janela escancarada do bloco da frente cerca de 03 homens em cima dela. Indignada com tamanha violência não contive meu impulso, e atravessei o condomínio.

Ao ir de encontro a tamanha brutalidade, vi que uma senhora que morava 2 andares acima estava na janela, assistindo o espetáculo. Ao pedir que ela ligasse para a guarita e pedisse que fosse o vigia, ela simplesmente, com uma voz de completa passividade me disse que não tinha o telefone, e me perguntou o que estava acontecendo. Acredito que sua preocupação era muito "fuxicar" a vida dos outros do que fazer algo realmente necessário para intermediar tamanha crueldade. Não dando atenção às intenções da senhora, continuei, e ao chegar no jardim de frente à janela do apartamento perguntei a um rapaz visivelmente enfurecido o que estava acontecendo.

Para meu susto, o rapaz voltou-se para mim com tamanho ódio no olhar perguntando o que eu estava fazendo intrometendo na casa dele. Realmente, eu confessei a ele que não tenho este direito, quando estes não causam tamanha gritaria e pancadaria, capaz de acordar todo o condomínio e que se prostravam nas janelas de seus respectivos apartamentos. Então, lhe disse que se não terminassem, chamaria o vigia e a polícia, porque isso não poderia continuar.

Virei as costas e fui andando para meu apartamento, com tamanho medo daquele olhar. Se não bastasse, na outra janela apareceu um outro homem, perguntando quem era esta garota, onde eu morava, me xingando dos mais baixos escalões com uma voz também cheia de ódio. Um pouco confusa e com muito medo, minha reação foi me manter andando ao meu bloco, sem me virar, e entrar rapidamente.

Desabei. Ao entrar em meu apartamento senti tanto medo, que desabei. Por que tanto ódio naquelas pessoas? Tive medo. Moro só. E logo tive medo de fazerem alguma maldade aonde moro, com meu carro, ou pior ainda, me perseguissem, fizessem algum mal comigo ou com meus gatinhos. Minha primeira reação foi avisar para alguém o que havia acontecido. Se algo me acometesse até o outro dia, já teriam os primeiros suspeitos.

Claro que já estou tomando as providências para me resguardar. Hoje em dia não podemos apenas confiar no bom-senso das pessoas. Perdeu-se totalmente os valores, e uma vida é tirada por razões tão banais que chegam a assustar, como um cachorro que fez xixi na porta do vizinho, ou porque a bola do seu filho quebrou a vidraça alheia. Por isso neste caso, que agi o melhor caminho é a denúncia e fazer um boletim de ocorrência de ameaça. Contudo, confesso que fui imprudente.

A denúncia da violência doméstica, contra a mulher, ou a criança, é sigilosa, e por isso é o caminho mais prudente e eficaz a ser feito. Não recomendo tomarem o rompante que eu fiz, porque não somos "a prova de bala", e nosso peito vai ser sim perfurado se alguém num momento de fúria atirar contra nós. E não devemos ter o sentimento de vergonha, que o Amir sentiu quando seu pai enfrentou os guardas que iam violentar uma mulher no livro O Caçador de Pipas de Khaled Hosseini. Ele apenas teve medo, porque tinha consciência da natureza vulnerável que temos. No entanto, a omissão é sim um ato covarde que devemos nos indignar e ter vergonha dele.

A omissão que presenciei dos meus vizinhos que estavam ali, como espectadores de um "espetáculo", como nas antigas arenas de gladiadores realmente me deixaram tão assustadas tão quanto o ódio que vi no olhar das pessoas que praticavam a violência. Por isso tantos absurdos vemos nas notícias. Esposa mantida encarceirada por 09 anos pelo marido numa cabana na Suécia. Pai austríaco que mantêm filha em cativeiro por 24 anos. Ou a austríaca que viveu por 08 anos em cativeiro.

Isso me faz lembrar um filme que muito me marcou: Hotel Ruanda, quando ao verem as barbáries da guerra civil sendo transmitidas para o mundo, o gerente do hotel pergunta se as pessoas fariam algo. Então, os jornalistas ali lhe disseram com pesar, que as pessoas veriam a notícia no jantar, ficariam indignadas, e voltariam pra suas vidas normalmente.

Até quando vamos agir assim? Será que somos tão alheios assim com o mundo à nossa volta? Com as pessoas? Privacidade é diferente de violência. Muitas vezes já presenciei brigas de casais, ou de pais com filhos em meu condomínio, ou até mesmo momentos de confraternização de forma extrapolada, e nunca intrometi. Isso é privacidade. No entanto, estamos falando de algo além disso, estamos falando de maus tratos, de violência, de marcas profundas geradas. Estamos falando de valores. De valor à vida!
Não podemos confundir a individualidade e a privacidade que esta sociedade tanto lutou e buscar sempre reafirmar e nos permitir acomodar no conformismo da omissão, num estado letárgico de inércia e cegueira cômoda.

Quantas vidas precisam ser perdidas para começarmos a dar a atenção a elas? Ou temos que esperar que a televisão torne público para nos mobilizarmos? Quantas pessoas haviam no enterro da menina sequestrada pelo namorado? Milhares! O que as pessoas precisam? De circo? De espetáculo? De status? De imagem? Quem me dera se dentre destas milhares, algumas centenas de pessoas que ali estiveram buscassem algo realmente importante: Atitude! Indignação! Denúncia! Reconstrução dos valores! Ações em prol à vida! Isso realmente seria digno de registro nas câmeras da televisão.

4 comentários:

Anônimo disse...

Você agiu corretamente, talvez tenha sido a única. Mas com certa ingenuidade. Se é como disse, morar sozinha já é suficiente motivo para se resguardar(o que não significa ficar panguando diante um absurdo). Da próxima chame a polícia primeiro diga que ocorreu uma invasão seguida de agressão (brigas domésticas não têm prioridade, é fato...) e em seguida o vigia.

Obs: não espere muito do vigia...

PS: Não é pra te incomodar ainda mais em um dia que já começou mal mas o que você pretendia fazer depois de abordar os agressores? A coisa toda poderia ter terminado com duas vítimas ao invés de uma. Da próxima resista a intervir sozinha.

Abraços, Robson.

Anônimo disse...

Ops...incoerência detected... eu quis dizer que você agiu "quase corretamente"...

Críssia Paiva disse...

Concordo Robson!

Por isso enfatizei bem no post para as pessoas NÃO repetissem o que havia feito, que era imprudente. A melhor ação é mesmo conter os impulsos e chamar a polícia!Fica este alerta!

E um apelo: Não a omissão!

Obrigada pela preocupação e o "puxão de orelha"!

Renato Trindade disse...

Bom dia querida amiga!

Desculpe, ando muito sem tempo. Tive muitas mudanças por aqui no mês de outubro, contudo estou muito feliz! Torço para que tudo esteja bem contigo.

Bom final de semana!

GOD bless + PEACE!

Luz! HappyBlue:)