terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Quem permanecerá?


Estava navegando no mundo da televisão, quando me deparo com o programa do Padre Fábio de Melo. Como gosto muito da sua forma sóbria de expressar sobre a nossa humanidade, e a forma na qual ele aproxima o humano do divino, tornando assim a fé como algo mais real, menos alienado e mais palpável, então, parei para ouvir, e uma frase sua
muito me chamou a atenção, que posto abaixo:

"Só está ao seu lado, só permanece na sua trajetória, quem tiver escutado sua alma, quem tiver ouvido seu coração".

Esta frase fez todo o sentido para mim, elucidando algo q já vinha me agoniando há algum tempo.

Pessoas passam por nossa vida a todo instante, mas quem permanece? Apenas quem realmente nos tiver conhecido de verdade, nossa essência.

Tantas relações que mantemos no superficial apenas para um convívio diário. Pessoas que sabemos que são passageiras, enquanto quantas que nos são importantes não podemos, muitas vezes, estar perto.

E quantas relações gostaríamos que fossem mais, mas estas preferem permanecer assim, na superficialidade amistosa? Talvez para poderem tecer seus próprios julgamentos, criar seus próprios mundos e suas próprias verdades quanto a nós. Quantas pessoas são inteligentes, legais, gente boa, do bem, que temos afinidades, mas não são verdadeiras?E estas máscaras da verdade, muitas vezes, não são moldadas na lucidez, como algo intencional, apenas são moldadas porque não se permitem serem densos, serem humanos, serem reais.

Relações profundas requerem muito trabalho, requer conhecer o outro verdadeiramente. E vou além, compreende não só conhecer o outro, mas buscar entendê-lo, buscar amá-lo como é, com seus defeitos e limitações, compreende conhecer sua essência. E quando vamos além no outro, de certa forma nos comprometemos com ele. E então, entra ainda mais envolvimento, porque a nossa interferência a partir de agora no outro vai ter a densidade do amor que busca edificar. Por isso é tão mais cômodo e mais fácil não se envolver, não conhecer, não densificar as relações humanas.

Contudo, de que vale a vida se não for para vivê-la por inteiro? O mais profundo que dela poder extrair, ser? Nunca me conformei em viver na marginalidade das relações, nem em esconder o meu eu. Posso ter me decepcionado muito, chorado muito, me exposto muito e até me contradito
e errado muito, neste caminhar, nesta busca de encontro e formação de nós mesmos, e sei o quanto ainda muito passarei por essas coisas. Sei também que por muito tempo carreguei o medo da entrega do amor de um relacionamento e quando permiti me decepcionei, então tive medo de novo, e por vezes, ainda tenho. Ora, se em qualquer tipo de relação, seja com um amigo, seja na família, há decepções na tentativa de vivê-las, porque no eros também seria diferente? Há pouco tempo mesmo fiquei dias sofrendo indignada com julgamentos e injúrias descabidas feitas por pessoas que não se importam, apenas se deleitam na arte de difamar. Engraçado como o mesmo instrumento que pode fazer algo tão triste, também pode edificar, a língua. Pena que muitas vezes as pessoas prefiram a primeira opção. O vício do mais fácil. Talvez como uma forma de se sentirem melhores. Depois da profunda tristeza passada que me tirou a fome, o sono, e o mais importante, a paz do espírito, veio a pena. Não sinto talvez a mesma intensidade de raiva e indignação de outrora, acho que parte foi convertida em pena. Contudo tudo gera um medo, medo das pessoas. Medo do quanto elas nos assustam! Será que realmente vale a pena acreditar nas relações humanas?

Talvez seja este o ponto em que desistimos, porque é mais fácil nos refugiarmos em nossos medos.
Medos. Talvez parte da nossa não entrega, superficialidade esteja no medo, esteja numa auto-proteção. Quando nos entregamos, nos importamos, nos expomos verdadeiramente como somos, e assim, nos deixamos vulneráveis. E como é difícil ser vulnerável! Como o outro se mostra cruel, às vezes! Mas também, pode se mostrar como alguém que mereça continuar em nossa trajetória, alguém que nos edifique! É nisto que preciso acreditar.

Realmente, indiferente das marcas que me foram deixadas, e que ainda serão, indiferente do relacionamento que tenha me permitido densificar, por mais que o mundo, mais especificamente, as pessoas, tenham se esquecido do que é realmente importante, eu não consigo esquecer, e não consigo ser diferente, por mais que muitas vezes eu tente.

Portanto,que permaneçam na minha vida as pessoas que realmente conhecerem minha alma, e quiserem estar ao meu lado para edificar, porque, da mesma forma, só assim poderei estar eu na vida delas.

Paz e bem!


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