quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

House


Como não poderia deixar de ser, esta imagem me marcou muito. Na verdade, a cena. A cena do episódio da terceira temporada reprisado hoje, me emocionou profundamente pela incrível beleza daquele bracinho saindo do ventre da mãe, durante a cirurgia, e tocando o House. Ainda hesitante em aceitar que aquele até então feto era um bebê, ele permite-se tocar a sua mãozinha e por alguns segundos, se despertar para muito além da sua racionalidade.

Mais detalhes pode ser muito bem visto neste blog, que inclusive, acostumado com o jeitão escroto do médico da série, achou a cena água com açúcar demais. Mas confesso, que não pra mim, e olha que gosto da personalidade intrigante de House.

Aqui tem algumas opções de vídeos:

Aqui um vídeo caseiro justamente da cena que falei, mas a imagem não ajuda muito: http://www.youtube.com/watch?v=POR_fxe_4Xc

E aqui um site especializado: http://houseshowsonline.com/episodes/fetal_position.html

Bem, não conseguiria não compartilhar algo de tão lindo. Fica a dica, então!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Brasil


Recebi um PPS que muito me chamou a atenção entre tantos que recebemos diariamente, capazes, a maioria, de nos enfadar por suas repetições. Mas este me chamou a atenção pelo texto que se segue abaixo e por isso, o compartilho aqui.

Os créditos do PPS são de: formatação: Juliana Ramires, Texto: “Estou Velho...”, Autor: desconhecido, Música: “Hino Nacional Brasileiro”, João Alexandre.


"Na cidade de Joinville houve um concurso de redação na rede municipal de ensino. O título recomendado pela professora foi: 'Dai pão a quem tem fome'. O primeiro lugar foi conquistado por uma menina de apenas 14 anos de idade. E ela se inspirou exatamente na letra de nosso Hino Nacional, como descrito abaixo:


Certa noite, ao entrar em minha sala de aula, vi num mapa-mundi, o nosso Brasil chorar:

O que houve, meu Brasil brasileiro? perguntei-lhe!


E ele, espreguiçando-se em seu berço esplêndido, esparramado e verdejante sobre a América do Sul, respondeu chorando, com suas lágrimas amazônicas: Estou sofrendo...

Vejam o que estão fazendo comigo....


Antes, os meus bosques tinham mais flores e meus seios mais amores...

Meu povo era heróico e os seus brados retumbantes.


O sol da liberdade era mais fúlgido e brilhava no céu a todo instante...

Onde anda a liberdade, onde estão os braços fortes?


Eu era a Pátria amada, idolatrada...

Havia paz no futuro e glórias no passado...

Nenhum filho meu fugia à luta...


Eu era a terra adorada e dos filhos deste solo era a mãe gentil...

Eu era gigante pela própria natureza, que hoje devastam e queimam, sem nenhum homem de coragem que às margens plácidas de algum riachinho, tenha a coragem de gritar mais alto para libertar-me desses novos tiranos que ousam roubar o verde louro de minha flâmula...


Eu, não suportando as chorosas queixas do Brasil, fui para o jardim.

Era noite e pude ver a imagem do Cruzeiro que resplandece no lábaro que o nosso país ostenta estrelado.


Pensei... Conseguiremos salvar esse país sem braços fortes?

Pensei mais...

Quem nos devolverá a grandeza que a Pátria nos traz?


Voltei à sala, mas encontrei o mapa silencioso e mudo como uma criança dormindo em seu berço esplêndido..."

Crônica de Martha Medeiros


Depois de um bom tempo dizendo que eu era a mulher da vida dele, um belo dia eu recebo um e-mail dizendo: 'olha, não dá mais'. Tá certo que a gente tava quase se matando e que o namoro já tinha acabado mesmo, mas não se termina nenhuma história de amor (e eu ainda o amava muito) com um e-mail, não é mesmo? Liguei pra tentar conversar e terminar tudo decentemente e ele respondeu: mas agora eu to comendo um lanche com amigos'. Enfim, fiquei pra morrer algumas semanas até que decidi que precisava ser uma mulher melhor para ele. Quem sabe eu ficando mais bonita, mais equilibrada ou mais inteligente, ele não volta pra mim?

Foi assim que me matriculei simultaneamente numa academia de ginástica, num centro budista e em um curso de cinema. Nos meses que se seguiram eu me tornei dos seres mais malhados, calmos, espiritualizados e cinéfilos do planeta. E sabe o que aconteceu? Nada, absolutamente nada, ele continuou não lembrando que eu existia.

Aí achei que isso não podia ficar assim, de jeito nenhum, eu precisava ser ainda melhor pra ele, sim, ele tinha que voltar pra mim de qualquer jeito!

Pra isso, larguei de vez a propaganda, que eu não suportava mais, e resolvi me empenhar na carreira de escritora, participei de vários livros, terminei meu próprio livro, ganhei novas colunas em revistas, quintupliquei o número de leitores do meu site e nada aconteceu. Mas eu sou taurina com ascendente em áries, lua em gêmeos, filha única! Eu não desisto fácil assim de um amor, e então resolvi tinha que ser uma super ultra mulher para ele, só assim ele voltaria pra mim.

Foi então que passei 35 dias na Europa, exclusivamente em minha companhia, conhecendo lugares geniais, controlando meu pânico em estar sozinha e longe de casa, me tornando mais culta e vivida. Voltei de viagem e tchân, tchân, tchân, tchân: nem sinal de vida.

Comecei um documentário com um grande amigo, aprendi a fazer strip, cortei meu cabelo 145 vezes, aumentei a terapia, li mais uns 30 livros, ajudei os pobres, rezei pra Santo Antonio umas 1.000 vezes, torrei no sol, fiz milhares de cursos de roteiro, astrologia e história, aprendi a nadar, me apaixonei por praia, comprei todas as roupas mais lindas de Paris. Como última cartada para ser a melhor mulher do planeta, eu resolvi ir morar sozinha. Aluguei um apartamento charmoso, decorei tudo brilhantemente, chamei amigos para a inauguração, servi bom vinho e comidinhas feitas, claro, por mim, que também finalmente aprendi a cozinhar. Resultado disso tudo: silêncio absoluto.


O tempo passou, eu continuei acordando e indo dormir todos os dias querendo ser mais feliz para ele, mais bonita para ele, mais mulher para ele.


Até que algo sensacional aconteceu...


Um belo dia eu acordei tão bonita, tão feliz, tão realizada, tão mulher, que eu acabei me tornando mulher DEMAIS para ele. Ele quem mesmo???


Martha Medeiros


"Viva como se fosse morrer amanhã. Aprenda como se fosse viver para sempre."
(Mahatma Gandhi)

OBS: Engraçado como relacionamentos, e o fim deles, são sempre temas da humanidade. Mas também quem nunca sofreu com o fim de um amor? Quem nunca fez alguma destas risíveis atitudes em algum momento? Quem vai entender as coisas do coração? E como é difícil lidar com a finitude do que se acreditava, e um dia, se jurou ser eterno!
Pois bem, este pôst vai para todos que já sofreram ou estão sofrendo por justamente estarem na parte da balança mais alta, quando o outro resolveu sair da relação, por se encontrar na parte mais baixa. Este pôst vai para aqueles que mesmo quando estavam na parte baixa da balança souberam esperar, e trabalharam para voltar a equilibrar a balança. É, a reconstrução diária do amor. E mesmo quando esperávamos a mesma atitude do outro, e não aconteceu, ainda buscamos regatar, entender. E como dói ainda mais quando vimos que o outro desistiu! Que ele está seguindo sua vida sem o nosso amor, enquanto que nós aqui, ainda nos encontramos na balança, de forma a esperar o outro. Quanta injustiça! Seria tão mais fácil se ambos estivessem na parte baixa da balança e não houvesse sofrimento, ou apenas, como diria a música Ela disse adeus do Paralamas do Sucesso, choraríamos, mas seria apenas "lágrimas por ninguém, só porque é triste o fim". Mas esta feliz fatalidade é pra poucos!
E não pensemos que estamos sós no mundo! Estava hoje mesmo conversando com dois queridos amigos que estão sofrendo com a finitude de seus amores. Como é importante compartilhar nossas experiências neste momento! Porque também já sofri deste mal, já estive nesta balança desequilibrada injusta e ainda sinto ferroar em alguns momentos, a marca em mim deixada. Contudo, hoje posso me deleitar novamente com o amor. Há o temor de sofrer novamente, não tem como fugir. Mas, sobretudo, há a vontade de amar, de se entregar, e isso é maravilhoso, principalmente quando nos permitimos por nos sentirmos seguros na reciprocidade do outro! Mas essa reciprocidade pode acabar? Sim. Infelizmente alguns têm data de validade e sofreremos novamente. Mas tantas outras não se permitem findar, vão se renovando amor por anos. E é nisso que temos que acreditar se quisermos viver de forma livre e por inteiro.
É, a gente aprende com o tempo que a vida continua. Nem sempre temos a chance de substituir um amor pelo outro imediatamente, de forma a "esquecermos mais rápido" a dor que nos consome. Então, é importante reconstruirmos primeiro! Reerguermos nossas edificações. Assim como mostra de forma deliciosa, leve e nada piegas no filme Sob o Sol de Toscana, que recomendo e muito!
Posso dizer enfim, que aprendi uma coisa em especial com o amor, ao ouvir do Padre Fábio de Melo quando ele cantava uma música do Lulu Santos. Ele falava de que não precisávamos nos envergonhar pelo quanto que amamos, e nem pelo que fizemos um dia por alguém. Isso veio como conforto para aquele coraçãozinho que estava se sentindo "bobo" demais por amar e ainda, por ora, me consola quando ainda me vejo assim. E a música era:
"... eu gosto tanto de você que até preciso esconder...
... o que eu ganho e o que perco, ninguém, precisa saber"...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Celebração da vida!


Aqui estou eu, celebrando a vida! Alguém muito pequenininho está trazendo a felicidade de muitassss pessoas agora. Como é possível? Como é possível alguém que pelo simples fato de apenas nascer ser capaz de trazer tanta alegria? Ser motivo de tanta celebração?

Ah, a vida é inexplicável, às vezes. Principalmente quando se trata do amor. Se em alguns momentos atrás me derramava em lágrimas e dor por algo que não se tem mais que se derramar e que ainda estou aprendendo às duras penas a entender isso, agora me encontro feliz, muito feliz, por alguém que me é muito especial mesmo antes de nascer. Talvez a felicidade já me havia contaminado novamente antes mesmo de receber a boa nova. As lágrimas lavam a alma e nos levam à paz. Mesmo quando me encontro cansada e "raivosa" por ainda derramá-las. Mas graças ao tempo, cada vez menos, mesmo sabendo que talvez nunca cesse por inteiro. Contudo, graças a Deus, isso não impede a felicidade e o amor de nos preencher! E assim, me encontrava quando recebi esta feliz notícia!

O fato que há um razão muitoooo especial para celebrar em especial a vida hoje! Hoje nasceu a filha de uma grande amiga! Que felicidade!!! É a primeira amiga tãooo próxima minha que está tendo um filho. É bom vermos as etapas de nossos amigos, de pessoas queridas, e as nossas. Vermos o quanto estamos "crescidos" e "gente grande". Ontem mesmo visitei a casa de um outro grande amigo, que agora, reencontra os amigos não mais na casa de seu adorável pai, mas na casa que hoje ele constrói com sua esposa. É realmente lindo compartilhar estes momentos, este nosso "crescer". E como é bom rever os bons amigos. Rimos, brincamos, conversamos numa sincera e pura alegria. E o que não faço por eles? Até confio "comer joelho de porco", e "gradar" da coisa! Rs. Realmente é muito bom!

Também quero celebrar minha família. Esta semana mesmo recebi uma fofa mensagem da minha madrinha de batismo. A minha família é a base de meus valores e sempre se fez presente comigo, nas conquistas e perdas, alegrias e dores, ajudando-me a sustentar os meus alicerces. Uma homenagem em especial à minha mãezinha linda, um exemplo pra mim de garra, idoneidade e força, mesmo na sua doce fragilidade.

Também não posso me esquecer de celebrar os 366 dias que me permiti novamente entregar... A entrega recíproca e linda do amor. E mesmo não sendo fácil nenhum recomeço, presentes maravilhosos nos foram e nos são dados cada dia, mesmo mediante a distância e as provações da vida. Além do mais, o maior presente é termos um ao outro.

E assim é em tudo na vida. Sabermos que temos um ao outro nos ciclos da nossa vida torna a vida ainda mais bela e apesar dos vários desalentos, mais leve, ou quando muito o pesar, o mostra possível. Eu poder ter cada um destes presentes lindos que Deus me concedeu é maravilhoso e me transborda de felicidade!

Obrigada a cada um por fazer da minha vida uma edificação constante. Amo cada um de vocês de forma única e especial!

E seja bem-vinda mais esta pequenina e indefesa vida! Você é um presente abençoado para todos nós! E como todas as inexplicáveis coisas do amor, minha lindinha saiba que nós já te amamos e te recebemos de coração aberto às nossas vidas.

Vamos celebrar a vida! Paz e bem!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Quem permanecerá?


Estava navegando no mundo da televisão, quando me deparo com o programa do Padre Fábio de Melo. Como gosto muito da sua forma sóbria de expressar sobre a nossa humanidade, e a forma na qual ele aproxima o humano do divino, tornando assim a fé como algo mais real, menos alienado e mais palpável, então, parei para ouvir, e uma frase sua
muito me chamou a atenção, que posto abaixo:

"Só está ao seu lado, só permanece na sua trajetória, quem tiver escutado sua alma, quem tiver ouvido seu coração".

Esta frase fez todo o sentido para mim, elucidando algo q já vinha me agoniando há algum tempo.

Pessoas passam por nossa vida a todo instante, mas quem permanece? Apenas quem realmente nos tiver conhecido de verdade, nossa essência.

Tantas relações que mantemos no superficial apenas para um convívio diário. Pessoas que sabemos que são passageiras, enquanto quantas que nos são importantes não podemos, muitas vezes, estar perto.

E quantas relações gostaríamos que fossem mais, mas estas preferem permanecer assim, na superficialidade amistosa? Talvez para poderem tecer seus próprios julgamentos, criar seus próprios mundos e suas próprias verdades quanto a nós. Quantas pessoas são inteligentes, legais, gente boa, do bem, que temos afinidades, mas não são verdadeiras?E estas máscaras da verdade, muitas vezes, não são moldadas na lucidez, como algo intencional, apenas são moldadas porque não se permitem serem densos, serem humanos, serem reais.

Relações profundas requerem muito trabalho, requer conhecer o outro verdadeiramente. E vou além, compreende não só conhecer o outro, mas buscar entendê-lo, buscar amá-lo como é, com seus defeitos e limitações, compreende conhecer sua essência. E quando vamos além no outro, de certa forma nos comprometemos com ele. E então, entra ainda mais envolvimento, porque a nossa interferência a partir de agora no outro vai ter a densidade do amor que busca edificar. Por isso é tão mais cômodo e mais fácil não se envolver, não conhecer, não densificar as relações humanas.

Contudo, de que vale a vida se não for para vivê-la por inteiro? O mais profundo que dela poder extrair, ser? Nunca me conformei em viver na marginalidade das relações, nem em esconder o meu eu. Posso ter me decepcionado muito, chorado muito, me exposto muito e até me contradito
e errado muito, neste caminhar, nesta busca de encontro e formação de nós mesmos, e sei o quanto ainda muito passarei por essas coisas. Sei também que por muito tempo carreguei o medo da entrega do amor de um relacionamento e quando permiti me decepcionei, então tive medo de novo, e por vezes, ainda tenho. Ora, se em qualquer tipo de relação, seja com um amigo, seja na família, há decepções na tentativa de vivê-las, porque no eros também seria diferente? Há pouco tempo mesmo fiquei dias sofrendo indignada com julgamentos e injúrias descabidas feitas por pessoas que não se importam, apenas se deleitam na arte de difamar. Engraçado como o mesmo instrumento que pode fazer algo tão triste, também pode edificar, a língua. Pena que muitas vezes as pessoas prefiram a primeira opção. O vício do mais fácil. Talvez como uma forma de se sentirem melhores. Depois da profunda tristeza passada que me tirou a fome, o sono, e o mais importante, a paz do espírito, veio a pena. Não sinto talvez a mesma intensidade de raiva e indignação de outrora, acho que parte foi convertida em pena. Contudo tudo gera um medo, medo das pessoas. Medo do quanto elas nos assustam! Será que realmente vale a pena acreditar nas relações humanas?

Talvez seja este o ponto em que desistimos, porque é mais fácil nos refugiarmos em nossos medos.
Medos. Talvez parte da nossa não entrega, superficialidade esteja no medo, esteja numa auto-proteção. Quando nos entregamos, nos importamos, nos expomos verdadeiramente como somos, e assim, nos deixamos vulneráveis. E como é difícil ser vulnerável! Como o outro se mostra cruel, às vezes! Mas também, pode se mostrar como alguém que mereça continuar em nossa trajetória, alguém que nos edifique! É nisto que preciso acreditar.

Realmente, indiferente das marcas que me foram deixadas, e que ainda serão, indiferente do relacionamento que tenha me permitido densificar, por mais que o mundo, mais especificamente, as pessoas, tenham se esquecido do que é realmente importante, eu não consigo esquecer, e não consigo ser diferente, por mais que muitas vezes eu tente.

Portanto,que permaneçam na minha vida as pessoas que realmente conhecerem minha alma, e quiserem estar ao meu lado para edificar, porque, da mesma forma, só assim poderei estar eu na vida delas.

Paz e bem!


sábado, 2 de janeiro de 2010

A arte de perder - Elizabeth Bishop

The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

-Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.



Tradução (de Paulo Henriques Britto)

“A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério. “



OBS: ...tenho muito que aprender com estes versos... assim como a arte de aprender a esquecer.... e tantas outras coisas... para que o seguir a vida se torne mais leve e ainda mais livre...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Operação Valquíria

Delegamos responsabilidades demais a Deus?

Para começar este texto, venho dizer que ele não tem pretensão alguma de blasfemar contra qualquer crença ou religião, principalmente a Deus, a quem professo minha fé.

O fato é que percebo que em alguns momentos simplesmente delegamos responsabilidades a Deus. Ora, a todo tempo vemos quantas coisas tristes acontecem! Sendo Deus amor, porque tanta dor? Aí alguém diria: o livre arbítrio. Sim, claro, a responsabilidade humana! Só que sempre depois de um momento de dor ou de indignação sempre vem aquela velha frase: foi a vontade de Deus! Será que é mesmo?

Vamos entender meu raciocínio, e para isso vou citar o excelente
filme Operação Valquíria, de onde veio a inspiração deste meu pôst. Se os homens estavam fazendo a guerra, segunda guerra, para sermos mais exatos, e era o Hitler o demônio da vez, precisávamos de pessoas que fossem o instrumento de Deus para terminar aquela guerra, correto? Errado. Pelo menos, o que parece.

Havia pelo menos cinco anos que judeus eram exterminados em campos de concentração, que famílias alemãs viviam na miséria da guerra sob o domínio do Partido, só ler o
livro a Menina que roubava livro, de Markus Zusak para conhecer um pouco desta realidade, e que milhares de pessoas morriam por todo o mundo. Só que a guerra tinha um fim, pelo menos, era a grande desculpa da vez: a luta contra o nazismo, contra a expansão do Terceiro Reich.

Hitler era o controle do Partido, o ícone, sem ele tudo se tornava enfraquecido. Bastava sua voz para impor respeito, temor, medo a toda uma nação. Então, quem conseguisse chegar a ele, poria fim às atrocidades da
2º guerra mundial. Se fossem os próprios alemães, o respeito à nação Alemã seria restabelecido, teriam o retorno aos valores massacrados pelos pensamentos alienantes da “raça pura”, sem precisarem carregar as sombras deixadas pelo Terceiro Reich.

Poderia ser lírico se pensássemos que atendendo aos pedidos de tantos que deveriam de ter suplicado naquele momento por pessoas corajosas, por heróis, para salvá-los daquele inferno, vieram pessoas de dentro do governo que se opuseram à conduta nazista e se propuseram a arriscar suas vidas em nome de um país que eles acreditavam. Seria ainda mais lírico e heróico se eles tivessem conseguido. Ao contrário, as condenações à morte por traição ao Führer fora o fim destes que seriam os libertadores de todos.

Ora, por que eles não conseguiram? Por que falhou a
Operação Valquíria? Por que alguém afastou aquela bomba de Hitler? Eles estavam lá, tão perto, por que a sorte lhes faltou? Por que se precisou de mais um ano de massacre mundial, para que a guerra se findasse com a tomada dos Aliados e o suicídio do Führer? Por que precisou de mais um ano de crianças e mulheres judias serem incineradas? Por que precisou de mais um ano de fome, miséria e perdas nas famílias atingidas pela guerra? Por que precisou das bombas de Hiroshina e Nagasaki? Seria por que Deus quis? Não, não posso acreditar nisso. Creio que Ele chorou profundamente com tantas dores e lares dilacerados. Não há justificativa pra tanta dor.

Então tentaríamos buscar respostas, porque como humanos que somos, tentamos justificar tudo: era importante o alarde do poder de destruição que as bombas atômicas têm. Será mesmo? Isso não fez com que na guerra fria houvesse uma corrida de armamento nuclear mundial, anos depois. Isso não impede que hoje, às escondidas, os países busquem esta grande arma para obterem respeito e temor. O que houve e o que há hoje é a diplomacia da conveniência política de como administrar este grande perigo mundial.

O fato é que acredito cada vez menos que tantas atrocidades assim estavam de alguma forma nos Planos Divinos. Não precisamos ir tão longe. Dores que dilaceram os nossos corações diariamente: perdas, violência, traições, desrespeitos, usurpadores, falta de idoneidade, impunidade, injustiças, egoísmos, entre tantos outros atos humanos que acabam de certa forma atingindo pessoas do bem. E quem são os causadores, em geral, consegue dormir tranquilamente, viver suas vidas de sucesso, enquanto os atingidos carregam suas marcas por toda vida, e tenta diariamente sobreviver a elas.

Sabe de uma coisa? Cansei deste nosso discurso de darmos responsabilidades que não são a Deus. A gente sempre tenta entender. O fato é que não tem o que entender. Somos muito mais responsáveis por nossas vidas e pelas vidas dos outros que nos cercam, e que de alguma forma ou de outra interferimos, seja de uma maneira boa ou má, do que a Força Divina, quem insistimos denominar.

Não podemos transferir responsabilidades. Não há justificativas Divinas. O que há são atos humanos. Apenas humanos. Alguns, buscando na sua humanidade trazer a eles um pouco de divindade, outros, rendendo-os aos seus próprios egoístas desejos. Não há certo ou errado nas escolhas. Cada qual escolhe viver como se sente bem e em paz consigo mesmo. Contudo, quando as escolhas interferem na vida de outrem, cabe-se a responsabilidade do outro também. Não vivemos numa redoma. Nossos atos desencadeiam marcas. Basta apenas a nós escolhermos que sejam marcas boas ou não em outrem.

Como é difícil e cruel isso, num é? É como seu os nossos sonhos mais pueris se quebrassem. Saber que somente nós estamos a conduzir nossos atos e percebermos que nossas quedas não têm um porquê específico dói muito. Admitirmos nossas perdas, nossas marcas, nossa solidão como apenas consequência de nossa humanidade nos assusta.

É claro que mentiria se não dissesse que não sinto a Mão Divina em mim. Seria ingrata com meus Anjinhos da Guarda que por tantas vezes me conduziram quando nem eu mesmo conseguia fazê-lo. Sentindo sempre a bondade de Deus, Seu amor, Sua providência, Sua proteção neste meu caminhar. Euzinha, tão pequena, ínfima nesta imensidão dos universos, e ainda poder sentir tamanha doçura e cuidado! Ai... Ai, como é lindo! Só que seria injusto transferir minhas marcas, por causa de um porquê Divino. Seria injusto condená-Lo por não evitar minhas marcar, ou pelo menos, por não evitar que doam tanto.

Estão livres agora todas as Divindades a quem acorrentamos com nossas responsabilidades! Cada qual mantém sua Fé, seu Amor e seu Temor à sua respectiva crença. Mas Elas se encontrarão livres de nossas correntes! Anistia a Deus!