segunda-feira, 8 de junho de 2009

Distorções dos valores do amor

Já faz um bom tempo que me deparo com situações que me deixam indignada, e por vezes, muito triste. Primeiramente, quero deixar claro que eu respeito a opinião de cada um. Só que me deparo com formas de pensar muito longe do que acredito e vivo na minha vida. Eis a razão deste meu pôst. Perdoem-me se minhas palavras não forem tão suaves como esperam. Apenas derramarei a forma como penso. Não se sintam ofendidos! Porque não é esta a minha intenção. Podem comentar ou criticar, justamente porque não sou a dona da verdade, e não estou aqui para impor uma. Apenas, peço o mesmo respeito que dispenso quando não concordo com o que me falam. Para não me alongar muito num pôst só, já que não consigo mesmo falar em poucas palavras sobre este assunto, vou separar em duas temáticas, que a princípio falaria juntas: distorções dos valores do amor e da fé. Neste, vou me focar no amor.

Infelizmente, é visível, e por vezes, risível, as distorções que cercam um tema tão presente em nossas vidas, o amor.

O pior é que se viesse apenas da televisão, como ouvi na novela Caras e bocas, pela personagem Laís: Já vou fazer 30 anos e ainda não casei nenhuma vez!, eu até entenderia, porque na TV, é vergonhoso, mas real, o fato de não termos muito o que absorver de bom. Contudo, ouço a todo tempo, indiferente do meio em que me encontro, mentalidades assim, e o que mais me assusta é quando vem de pessoas com um grau de instrução maior, capazes de ter um certo senso crítico que não se submetam a este senso comum. No entanto, sou metralhada com uma bateria de pensamentos que vão contra tudo que acredito: "Nossa, a melhor coisa que aconteceu depois do casamento foi a minha liberdade, por não ter que prestar contas dos meus horários pros meus pais." "Você se separou e não guardou as fotos de você vestida de noiva? Nossa, eu guardaria. " "Estou chateada com meu namorado porque ele me criticou por querer casar na igreja, mesmo eu indo à igreja apenas em eventos sociais. " "Filho foi a única coisa que não conquistei ainda. Não quero mais um marido, quero um filho. " "Você se separou, mas pelo menos se casou, vestiu de noiva, coisa que eu ainda não fiz." "Quero casar, mesmo que não dê certo, apenas para ter alguém que me quis um dia". Entre tantas outras.

Começando, falando sobre o casamento. O casamento é o sacramento do Amor entre duas pessoas, independente de qual religião ou fé elas professem. Indiferente se são casados no papel ou não. A vida conjugal não precisa de rótulos, de papel ou de ritos quando duas pessoas se respeitam e se amam. A primeira concretização deste sacramento tem que acontecer no coração do casal, depois vem as formalidades. E é justamente o que não acontece. Preparam-se as festas, os ritos, e quando vem a vida real do casamento, sem púrpuras, o casal simplesmente não preparou o coraçãozinho para suportar os momentos que virão, sejam eles bons ou não.

Aprendi a importância que se tem primeiro casar o coração, depois todo o processo virá como consequência, e se tornará mais leve, por mais pesado que se pareça o fardo. Outra coisa que aprendi às duras penas: uma relação depende de como os dois a cultivam, e a gente nunca vai saber ao certo como o outro a cultiva, apenas sabemos o que sentimos através do que eles nos passa, então, dê o melhor de si, e seja sempre você mesma, e se sentirá em paz sempre.

Quem ama cuida. Quem ama respeita. Quem ama quer fazer o bem. Quem ama protege. Quem ama educa. Quem ama, compartilha. Quem ama vive a cumplicidade das superações e perdas dos desafios diários. Quem ama, vive a verdade e a sinceridade. Quem ama, constrói. Quem ama, escolhe amar cada dia. Casamento é um SIM diário. É uma escolha diária.

Fica fácil perder-se perante tantas ofertas, tantas dificuldades, tantas diferenças. Perder o foco é em geral a principal fuga que o casal tem quando se concentra mais nas razões para não manter a relação, nas coisas que não são boas, nas dificuldades, nas diferenças, nas esperas, do que nas razões que um dia os levaram a dizer um SIM, que os levaram a escolher aquela pessoa, ao seu lado, para a vida toda.

Para melhor entendimento do termo sacramento que citei, encontrei no link, tal descrição: A palavra sacramento é uma adaptação latina – sacramentum – do termo grego Mysterion. Daí podemos perceber que sacramento tem relação direta com mistério. É um mistério à razão humana. Sacramento também, significa sinal. Sinal misterioso. Define-se sacramento como: “Sinal sensível, de uma realidade invisível”. É algo que podemos perceber através dos nossos sentidos (visão, audição, paladar, tato e olfato), mas que exprimem uma realidade transcendente, ou seja, algo que vai além daquilo que vemos.

Se a pessoa não vive uma fé em alguma religião, por que então casar nesta Igreja? Apenas porque socialmente é assim que as pessoas fazem. Criticamos tantos hipócritas, mas nesses momentos agimos como eles. Cedemos à vaidade da sociedade. Certa vez tive a infelicidade de presenciar um casamento em que declaradamente a noiva estava aquém de tudo o que o padre ali celebrava, ao ar livre. Ela interrompia o padre, e já queria ir direto para a parte de trocar as alianças. Ela não entendia o rito ali celebrado. Então, simplesmente, preferi voltar pra minha mesa, e não presenciar mais aquela cena que para mim, não tinha fundamento algum. A noiva estava declaradamente fazendo apenas a vontade de seus pais, e nem tentava esconder, ou ao menos, respeitar isso, já que ela optou viver este rito. As pessoas pensam que casamento é como destes romances, novelas, que tem que passar por estes protocolos para serem felizes para sempre ou apenas gostam dos pontos altos do rito, como a troca de alianças e o Sim, não importando como chegar até a eles. O problema é que vejo isto a todo instante. Pessoas que se declaram ateus e se casam professando alguma fé. Pessoas que não vivem ou tentam conhecer mais alguma religião, mas criticam afiadamente tudo à sua volta, sem se envolver a nada, mas quando vão se casar, lá estão pedindo a benção.

Não estou defendendo fé com viseiras! Pelo contrário. Temos que ter senso crítico em tudo na nossa vida. Contudo, só criticar é tão estéril tão quanto só obedecer. Quando você se envolve em algo, você está conhecendo de perto aquela realidade, e poderá, assim, atuar de alguma forma para melhorá-la.

Por que a necessidade de se casar? O casamento é uma consequência do amor vivido entre duas pessoas. Casar só para se sentir desejada por alguém. Casar só para vestir um vestido. Sinceramente, isso não é conto de fadas. Existem vidas envolvidas que por atos infantis e imaturos podem dilacerar o coração e a alma do outro.

Assim como casar apenas para ter liberdade. Ora, vá morar sozinho! Arranja um curso ou um trabalho em outra cidade, caso seus pais não aceitem que você more na mesma cidade longe deles. Mas a vida conjugal é muito mais ampla que este conceito. Certa vez ouvi uma das melhores definições de casamento, de um colega de trabalho, que após 10 anos de namoro, e ao retornar ao trabalho, ele nos disse: a melhor coisa que tem na vida é acordar todos os dias do lado da pessoa que se ama! Este é o conceito que acredito. A simples forma de amar. Sem maiores estardalhaços ou parafernálias. Simples, como o amor deve ser vivido, sentido, amado.

Hoje li uma entrevista interessante do ator Matthew McConaughey que ele dizia: Acho que foi o ex-presidente Abraham Lincoln que disse que o melhor exemplo que você pode dar aos seus filhos é mostrar a eles como você trata e ama a mãe deles. E eu amplio um pouco esta frase: se você ama, doe o melhor de si, e se sinta em paz.

Assim também como o casamento é o Amor Sacramental entre duas pessoas, os filhos são, consequentemente, frutos deste amor. Filhos deveriam ser consequencias, não causa de uma relação.

E direi o mesmo que disse acima sobre casar para batizar um filho: batize primeiramente o seu coração e depois batize seu filho. Ouvi uma verdade do padre numa missa, em que ele relatava que as famílias, em geral, estavam mais preocupadas com os preparativos pós batismo, como os almoços familiares, do que com a importância daquele momento ali celebrado. Batizado, de sacramento, passa a ser apenas mais um evento social. A dessacralização da fé.

Realmente é divino ver aquele ser tão pequenininho inundar um lar de felicidade. É belo ver pedacinhos de nós ali, projetados pela consequência do nosso amor. Contudo, ter um filho apenas porque é apenas mais um etapa da vida, ou apenas para não ser recriminado socialmente, ou porque a vaidade humana lhe faz querer um ser igual à sua pessoa, é um ato totalmente egoísta. Compartilhar o amor que nos transborda com um filho é um ato natural, assim, como dividimos diariamente nossa atenção, nosso cuidado, nosso amor com o mundo à nossa volta. Agora, se somos apáticos com as pessoas ao nosso redor, como esperamos ser diferente com um filho? Agiremos da mesma forma fria e distante. Então por que tê-los? Se nosso coraçãozinho se enche de ternura e de compaixão pelos seres vivos, desde os mais simples, como não o terá com um filho seu. Se conseguirmos encher-nos de amor, nos despindo de todos os pré-conceitos (é proposital a forma descrita, porque antevêem as formas de preconceito) sociais do que é belo ou não, do que é aceito ou não, e assim por diante, estamos diante de um amor capaz de aceitar e se apaixonar pelo outro, da forma como ele é, da forma como ele vem. Se for vindo de nosso próprio ventre, se for adotivo. Se for formoso ou melindroso. Se for independente ou se necessita de cuidados especiais. Se for branco ou se for negro. Agora, se estamos diante destes velhos estigmas sociais, torna-se cada vez mais difícil o amor doação, o amor sem esperar.

Contudo, definitivamente não há fórmulas para as relações dar emcerto, nem como acontece o despertar para o resgate dos valores, principalmente, o valor do amor. Pessoas que antes eram totalmente gélidas e egoístas começam a se importar e se tornam os pais mais cuidadosos e amorosos do mundo, com a chegada de um filho. Casais precoces ou imaturos, que conseguem se fortalecer e crescerem juntos. Pessoas antes que não sentiam vontade de viver, hoje se encontram inundadas de felicidades e planos. Ateus que começam a professar alguma fé. Por isso não julgo. O contrário também acontece, infelizmente. Contudo, não importa como começou, mas como se tornou depois. Este se tornar que vem do que se foi alimentando e trabalhando em si e ao seu redor, à medida que sentia, e consequentemente, definia a importância de cada um em sua própria vida e a de si mesmo.

Não somos obrigadas a seguirmos o padrão: nascer-crescer-estudar-trabalhar-casar-filhos-netos-morrer. Não somos obrigadas a viver o que a sociedade espera que nós vivamos. Temos apenas que estar em paz com nós mesmos, com as nossas escolhas. Contudo, independente da escolha a ser feita, que a façamos com amor, o amor voluntário, verdadeiro, que não espera nada em troca, e que o façamos com sinceridade.

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