quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Liberdade



Direito de escolha

Críssia Paiva


A aceitação de todos a respeito de nossas escolhas e do nosso jeito de ser, assim como o controle da situação e das conseqüências dos atos que tomamos nunca teremos, e isto é fato! Então que garantamos apenas o direto de escolha!


Algumas escolhas que tomamos nem sempre se referem apenas à nossa vida, muitas vezes afetam ao outro também. Então deixam de ser “nossas escolhas” e passam a ser “nossas mais do outro”, para que desta forma, seja aberto o direito de liberdade!


Como retratado no livro Neve – Orhan Pamuk, cujas mulheres de uma cidade turca se vêem atormentadas pela imposição do Estado Republicano, que lhe usurpam o direito de estudar caso usem o manto, intimidando-as com a exclusão social e preconceito, e ao mesmo tempo elas se vêem divididas pela imposição divina, ditada pelos líderes religiosos islâmicos que usam do símbolo do véu como uma forma de manipulação política através dos fantoches que as mulheres se tornam, mostra claramente que não há o direito de liberdade. Há controle.


Assim, quando os pais querem que os filhos realizem o que eles não conseguiram, ou até mesmo quando eles prescrevem para o filho exatamente os seus caminhos, de forma a assegurar que a “receita de bolo” da vida do filho saia tudo certo, conforme acontecera com ele, não é liberdade, é controle.


Quando em um casal, um deles decide ceder aos seus desejos extraconjugais, que ele dê o direito de escolha à sua companheira. Ela pode esperar e aceitar, optar por um relacionamento aberto, e serem felizes assim. Ou cada qual pode recomeçar sua vida para uma nova relação. Caso não lhe seja cedido este direito, é controle, não liberdade.


Não há escolha certa, assim como não há jeito de ser certo, como disse anteriormente em um dos meus devaneios: Não existe jeito certo, mas existe jeito sincero. Independente de qual escolha a ser feita, haverá perdas e ganhos. Mas é imprescindível que o direito de escolha seja dado. Porque toda forma de controle é falha. Uma hora ela pode causar danos irreparáveis e conseqüências desastrosas. Não obstante, como acontece quando uma partícula de nêutron que se choca com um elemento físsel, principiando uma reação em cadeia. Eis a bomba atômica e toda sua destruição arrebatadora.


O livre arbítrio é um risco e por isso tão especial. Só quando há tamanho amor ao próximo e maturidade que conseguimos libertar o outro de nossas imposições, de nossas crenças, de nossas opiniões, de nossos gostos, de nossas expectativas, de nosso jeito de viver, de nosso controle. E o desapego torna-se um elemento necessário para se reaprender amar, porque o amor é livre, e tentamos segurar o outro junto a nós, ao nosso modo, sob nossa guarda e tutela. Por isso que se é um trabalho constante, que precisa estar atento sempre, porque a todo instante estamos “amarrando” alguém à nossa “verdade”, ao nosso “querer”, seja um colega de trabalho, seja um vizinho, seja um familiar, seja um amigo, seja um companheiro.


Então, como foi bem colocado no filme O Todo Poderoso, com Jimmy Carey, quando ele tentava impor seu amor à sua esposa que já não o reconhecia na pessoa que ele se tornara, e mesmo ela o amando muito, ela usou do seu direito de escolher não querê-lo em sua vida, da forma como ele estava, no seu mais exarcebado imaturo alter-ego. Foi quando ele perguntou para Deus, no papel do Morgan Freeman, como Ele poderia fazer as pessoas amá-Lo dando-lhes o livre arbítrio? Eis minha realidade, O respondeu. Então, quando ele se re-avaliou, buscou ser uma pessoa melhor, e encontrou-se em paz consigo mesmo, ele a reconquistou e ela o escolheu novamente em sua vida.


Gosto também muito do trecho do livro A menina que roubava livro – Markus Zusak, quando a Morte, que era o locutor do enredo, diz que o ser humano a surpreendia muitas vezes, porque no momento em que se findavam alguns tinham atitudes sublimes e belas, contudo, o ser humano tinha o bom senso de morrer.


A morte é a única coisa que realmente não temos o direito de não escolher. Alguns até a apressam, outros tentam prolongá-la até o último suspiro permissível. No entanto, todos nos depararemos com ela um dia.


Nosso derradeiro destino talvez nos ensine que por mais que tentemos controlar tudo e todos à nossa volta, somos tão frágeis e pequenos que temos destino certo: morrer um dia. Podemos até reclamar, tentar, mas não podemos lutar contra este inevitável e incontrolável fim.


Que nossa pequenez humana nos ensine a vermos com humildade o quão pequeno e igual somos, e que por isso mesmo, não façamos como alguns dos cegos das camaradas no livro Ensaio sobre a cegueira – José Saramago, que mesmo encontrando-se nas mesmas condições de limitações que todos ao seu redor, impuseram seu controle, seu poder sobre os outros. Pura vaidade humana! E por mais que perduraste por alguns terríveis e tristes momentos para os que ali estavam sendo submetidos à tamanha barbárie, um hora veio o despertar, e como uma revolução incontrolável, libertaram-se, e então, veio-se a luz. Não a luz branca que lhes encarceravam tanto nas suas fragilidades, mas a luz plena, que tudo vê, e que, consequentemente, lhe permite escolher novos horizontes.


Então que enquanto vivos, permitamos ao outro o direito de escolha. Re-aprendamos a amar o outro todos os dias, nos desapegando de nosso egoísmo, de nossas expectativas, de nossos “quereres”, de nossas vaidades, de nosso controle! Deixemo-lhe ser livre, para que assim, possa lhe ser dada à escolha de ser sincero com ele mesmo e, por conseguinte, conosco.

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